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"Eu não sabia que era possível encontrar coisas tão legais no brechó"

Garimpar, uma moda que não é de hoje

Bazar, brechó, garimpo. Essas costumam ser as primeiras palavras lembradas quando se fala em compra e venda de peças de segunda mão. A prática é antiga e remonta aos tempos do Império Asteca.  Apesar de se referirem à mesma coisa, há diferenças sutis entre elas e precisam ser compreendidas. Vamos começar pelo garimpo, que não é propriamente o evento ou o lugar em si. Vem do verbo garimpar e, nesse contexto, significa procurar por peças exclusivas, de boa qualidade e preços acessíveis. O termo é muito utilizado por artistas, estilistas, apreciadores de antiguidade e pessoas ligadas à moda.  

O bazar tem caráter de evento, geralmente é organizado por pessoas jurídicas, igrejas, escolas, associações e instituições diversas com a finalidade de arrecadar fundos para reformas e assistência social, nem sempre tem um local fixo. O termo vem da palavra persa bāzār  e significa “lugar de preços”. O verbete começou a ser empregado para se referir aos mercados cobertos das cidades europeias com áreas de influência islâmica. Atenção: não confundir bazar com bazaar, este último é uma expressão do inglês que se refere a vendas com desconto, ou seja, em épocas promocionais.


Já o brechó normalmente é feito por empreendedores individuais ou associados, possui espaço fixo e tem o objetivo de lucro pessoal.  A expressão “brechó” é brasileira e vem do nome Belchior. No Rio de Janeiro, durante século XIX, havia um vendedor de usados que se chamava assim . Com o passar do tempo, a corruptela foi adotada no vocabulário popular.  O estabelecimento, ainda sob o nome ‘belchior’, é mencionado no conto “Ideias do Canário”, de Machado de Assis, publicado originalmente na Gazeta de Notícias, em 1895.

Garimpeiros

Fotos:

Leo Barbosa

Vender, comprar e trocar usados pode ser lucrativo

A Revolução Industrial proporcionou que o capitalismo se consolidasse como sistema oficial do Ocidente. A desigualdade social nas classes trabalhadoras aumentou a necessidade de adquirir peças a preços acessíveis. Apesar da efervescência durante o século XIX, a venda e compra de artigos usados se popularizou  com as crises produzidas pela Primeira e Segunda Guerra Mundial, principalmente através da Cruz Vermelha, com a venda de produtos doados a preços bem acessíveis.

 

A máxima econômica de que a oferta gera demanda é bastante apropriada, se pensarmos que muita gente ainda não teve contato com esses espaços. A universitária Yasmin Guimarães topou ir a um brechó a convite da reportagem para ter uma outra opinião sobre o assunto, e a reação não poderia ser outra. “Sempre ficava pensando no que as pessoas falariam de mim se me vissem usando roupas seminovas. Eu não sabia que era possível encontrar coisas tão legais no brechó. Tinha um pouco de preconceito, poderiam estar sujas, danificados e até com mau cheiro, mas até que não achei . Os preços são bem em conta e dá para levar mais de uma peça.”

E se o assunto é economia, há vantagens tanto para quem vende, quanto para quem compra. O economista Eudésio da Silva explica melhor. “Nesse tipo de negócio há uma relação ganho a ganho. Ganha o consumidor e ganha o vendedor.  O que é isso? Do ponto de vista de quem consome, a vantagem é que o produto usado sai mais barato do que um novo, é possível economizar de 80% a 90% em alguns casos. Já na perspectiva do vendedor, também é possível ter lucro. Os produtos disponíveis em bazares e brechós normalmente são peças que seus donos não utilizam mais. A opção pela revenda, de qualquer uma das formas rende algum ganho para quem revende”.

 

A dona de casa Débora dos Santos é um exemplo de pessoa que aproveita a dupla vantagem desses espaços. “Eu não só vendo como compro também e acho a ideia dos brechós sensacional. Vendendo ou comprando, a gente acaba dando uma utilidade a uma peça que estava esquecida e ainda lucra com isso. Esses artigos são descartados e ainda estão bons e dá para usar. Inclusive, muitas coisas são de marca. É uma maneira de reutilizar aquilo que já não está servindo. Além de ganhar espaço no guarda-roupa, poder preenchê-lo de novo com outras peças, você ainda pode ganhar um dinheirinho”, conta.

Cultura agregada, outras experiências do sensorial

A procura por estes espaços também pode estar associada ao conceito de slow fashion (moda desacelerada), que se coloca como um movimento sustentável alternativo à produção em massa. Antenada com o assunto, a estudante Camila Marques diz que esse tipo de comércio apela menos ao consumismo e mais à sustentabilidade. “A gente se sente menos refém do capitalismo. Ao mesmo tempo, você entra num ciclo de entregar as roupas para doação e vai aos bazares e pega outras”, completa.

De acordo com a estilista Glynnis Brum, as vantagens de se comprar nesses espaços são várias. A maior delas é  conseguir encontrar peças únicas, antigas e que não estão disponíveis nas lojas. “Se está na moda usar blusas com babados, todas as lojas vão tê-las. No bazar as peças tem um caráter mais exclusivista, por isso a procura é grande.” A estilista continua: “Muita gente usa roupa doada. De repente, pode ser até um estímulo à boa ação. Fora que há uma questão de sustentabilidade, peças que poderiam ser descartadas são reutilizadas e, o melhor, com um preço bacana”.

 

Outra estilista, Thaís Eugênio, acredita que a cultura de comprar em brechó vai na contramão do pensamento das lojas de fast-fashion. Segundo ela, essa modalidade possibilita o uso de novas linguagens, isto é,  dar uma nova visão para uma roupa que já tem uma história, que já é exclusiva e única. Permitindo, assim, a customização, descaracterização e adequação ao próprio corpo.

“O interessante é que Juiz de Fora é uma cidade que proporciona que a ida ao brechó seja uma experiência diferente”, observa Thaís. “Ainda mais com essa perspectiva que se abre com o Bazar Vintage, o Garimpo da Artes, entre outros eventos. Você encontra peças baratas e interessantes com uma modelagem retrô e que vai te proporcionar outras experiências do sensorial. Você compra um peça e sai com uma cultura agregada, com outros valores.”

Garimpando a história: a compra e venda de usados pelo mundo

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